Vergonhoso! De novo, mais de mês sem publicar nesta bodega. E o pior, né, quando eu finalmente publico algo, é poeminha. Infelizmente é o que tem pra hoje, é pegar ou largar.
Mas, primeiramente, as notícias: a editora Ofícios Terrestres uns meses atrás abriu uma chamada para publicação de poesia. E eu mandei um livrinho meu. Como falei no meu texto sobre o Momo Rei, aqui na quarta edição da newsletter, meu primeiro livro, Lira de Lixo, saiu em 2013 pela Patuá e eu logo depois comecei a pensar na sequência (esse projeto, bom frisar, NÃO se chama Lira de Lixo 2: o lixo agora é outro). E aconteceu de o PARSONA parssar na frente e aí o Momo se enfiou também. Então esse livro que seria o segundo e vai acabar sendo o quarto eu consegui concluir no ano passado, mandei para o pessoal, dei sorte e aí esses dias eles anunciaram que eu fui um dos 8 escolhidos. Uhul!
É muito difícil transmitir o sentimento de alegria por escrito (o que é uma coisa irônica de se falar, considerando que, enquanto poeta pessoa em condição de poesia, a capacidade de botar as coisas em palavras é meio que exigência do cargo), e eu não sou do tipo de gritar e soltar foguetes e rojões, mas imaginem que eu estou felizão e sorridente enquanto dou essas notícias por aqui. E, claro, muito grato ao pessoal da Ofícios Terrestres que leu uma montanha de originais e considerou o meu livrinho digno de sair da gaveta.
Agora, sem mais delongas, os sonetos falsificados que eu prometi:
FRACASSO – OU UMA ARTE POÉTICA
Try again. Fail again. Fail better. – Samuel Beckett – para Paulo Henriques Britto Cabe uma vida inteira num soneto ou assim pensam, planejando a rima a construção de si mesmo, obra-prima as boas escolhas, bom nascimento basta uma voz pra estragar o coreto amarga em choro, que desafina (a alvenaria desaba num tijolo podre) nunca ter sonhado com este emprego esta espelunca museu que expõe só esculturas tortas com rachaduras a chave caiu na rua e o caminhão passou por cima tentar traçar um rumo certo entre caminhos que surgem, somem no deserto um olho chora, o outro, a esmo revê os planos é tarde, fodeu vai ter que ser assim mesmo agora.
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DA ARTE DE PERDER
Lose something every day. Accept the fluster of lost door keys, the hour badly spent. – Elizabeth Bishop Saudade, sereno incapaz de penetrar estas paredes, veste nesta língua cores distantes de estrangeira tanto não é nenhum desastre – as coisas, lugares, um pai, três avós, toda uma língua outra que ratos carcomeram no sótão, e identidades também, só pergunte se algo dói ou coça ou faz falta, aqui este concreto, este asfalto, onde nenhuma flor a inevitáveis invernos concede o prazer de arrancarem suas pétalas.
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CORPO
And every possibility’s been proved untrue Now is your body you? – Michael Gira/Swans Este eu precariamente construído sem alicerce ou fundação, sem pedra angular, o desprezo dos que passam, este terreno acidentado, a mão- -de-obra trêmula, como se tivesse sido opção – sim, pois sempre desejei paisagens em que as árvores se adornam de suicidas. À porta, um mar de lodo. Cada tremor no peito, cada olhar marejado, o desastre já previsto desde a primeira ripa se anuncia, surpreende e não devia: enfim o corpo (torta metáfora aqui para o espírito) soterrado na lama e nos escombros.
Como faz basicamente uns dez anos que eu venho aos poucos escrevendo esse livro, tem mais alguns poemas dele espalhados aqui e ali, incluindo no escamandro, no Cândido, na modo de usar, na Mathilda, na Festival Review (uh lá lá, publicação no estrangeiro, que chique… infelizmente só sobrevive no cache da busca do Google, porque os caras pararam de pagar o domínio) e alguns outros lugares. E, ah, a Ofícios Terrestres está com a segunda chamada do ano em aberto, até o fim de setembro, então para quem é poeta (sinto muito), recomendo olhar lá no linktree deles.
E agora deixo a promessa vazia de tentar publicar a edição #15 aqui antes de deixar que se passe um mês inteiro no silêncio.
ATUALIZAÇÃO (11/11): Minguante já está com a campanha de financiamento coletivo/pré-venda no ar pelo Benfeitoria! Vocês podem adquiri-lo neste link aqui: https://benfeitoria.com/projeto/minguante.
Assinar a Mercurius Delirans literalmente não custa nada e eu não tenho planos de monetizar a newsletter tão cedo. Se eu te ajudei a se distrair um pouco das dores da existência neste plano físico e você quiser dar uma força, sempre pode comprar meus livros.
"Pessoa em situação de poesia" me pegou demais. Até porque me considero uma "pessoa em situação de espancamento de teclados para fins de produção de textos ficcionais".
E ÓBVIO, parabéns pelo livro novo!!!!!